Mesmo sem ter muito conhecimento a respeito, a fotografia sempre despertou, em mim, admiração. Desde pequena, enquanto olhava fotos antigas dos meus avós, me perguntava como elas eram feitas, como era mágico poder registrar um momento especial e revê-lo a qualquer instante. Continuei mantendo o mesmo pensamento em relação à fotografia e, quando o assunto envolvia esta prática, espontaneamente, eu me interessava.
Na universidade, tive a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre como fotografar, tanto em aspectos técnicos, como em questões mais abstratas. Simplificando: não basta apenas segurar o dedo no botão disparador; tem que analisar – ou até mesmo sentir – uma boa oportunidade para obter uma boa foto. Do contrário, nada mais é que um comportamento de um fotógrafo amador. Em suma, à medida que eu ia aprendendo, a fotografia ultrapassava os limites de apenas registrar momentos para algo mais complexo – e fascinante.
Descobri que a fotografia tinha diversos gêneros, como a fotografia publicitária, fotografia artística e o fotojornalismo. Em relação a este último, tinha sérias dúvidas. Como as fotos, para mim, tinham que despertar algum sentimento no espectador, os produtos provenientes da maioria dos jornais eram, estranhamente, comuns. O fotojornalismo tem como objetivo registrar o mundo e seus fatos cotidianos; mas eu não achava que isto podia ser feito de modo tão simples, a ponto de não detectar diferenças entre um fotojornalista e uma pessoa que tem a fotografia como hobby – não que eu desmereça o profissional.
Fotografia de uma matéria sobre desmoronamento. Aposto que você teve a sensação de ver algo repetido. |
Então, vinha a pergunta: o fotojornalismo dialoga com características artísticas? Mesmo que a fotografia tenha gêneros tão bem estabelecidos, não é possível trazer um pouquinho da fotografia artística para o lado do fotojornalismo? Descobri que sim, mas também descobri um problema cabeludo por trás de tudo. Fotojornalistas referências na área, como Sebastião Salgado e Evandro Teixeira, certamente nos mostram fotos belíssimas, que nos fazem sentir algo quando as observamos cuidadosamente. Contudo, não acontece o mesmo quando observamos a maior parte das fotos dos jornais de hoje.
Uma das fotos mais famosas de Evandro Teixeira: "Passeata dos 100 mil", tirada em 68 durante um protesto contra a Ditadura Militar no Brasil. |
É aí que está o tal “problema cabeludo”: o fotojornalismo está, cada vez mais, se desprendendo de seu aspecto artístico. Por que não registrar o mundo e seus fatos cotidianos sem provocar no leitor alguma sensação instigante? Talvez porque os avanços tecnológicos aumentaram a concorrência, o que, consequentemente, aumentou a demanda, e o prazo continua se encurtando. As fotos precisam ser entregues em 20 minutos, 15 minutos, e fica mais difícil dar um clique no botão da máquina e, ao mesmo tempo, pensar na reação de um homem ou mulher ao ver a foto.
É claro, são só especulações. O fato é que o fotojornalismo está, realmente, em conflito com seus ideais. Alguns fotojornalistas insistem em preservar o espírito com que os grandes fotojornalistas registraram, brilhantemente, um evento cotidiano. É confortante saber que ainda há quem lute para manter a magia das fotos, mesmo que a verdadeira intenção seja registrar os fatos. Os interessados no tema, os adeptos à sensibilidade, como àquela menininha que via fotos em preto e branco dos avós anos atrás, agradecem.
Por: Jéssica Nascimento
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