João Roberto Ripper é um importante fotojornalista brasileiro que passou
por importantes veículos de imprensa, como a agência F4 e o jornal O Globo. No
entanto, desde seus 18 anos, quando começou a fotografar, ele percebeu que as
redações não eram seu lugar.
Grande parte do trabalho de João Roberto Ripper é dedicado a comunidades
e pessoas isoladas e excluídas: favelas, quilombos, carvoeiros...todas elas
negligenciados pela grande mídia, como diz o fotojornalista.
O décimo-nono artigo da Declaração Universal dos Direitos dos Homens
está gravado na cabeça do fotojornalista. Enquanto o artigo enuncia o direito
de exercer a comunicação, Ripper garante esse direito ao fotografar comunidades
esquecidas e "mostrar a beleza deste povo".
Confira abaixo alguns destaques da entrevista feita com o
fotojornalista:
Confiança
João Roberto Ripper deveria ser considerado um estranho, talvez até uma
ameaça ao chegar pela primeira vez em comunidades isoladas para produzir seus
ensaios. Ainda assim ele consegue produzir fotos íntimas com seus personagens,
que com certeza só foram possíveis através da construção de laços de confiança
entre fotógrafo e fotografado.
Para conquistar essa intimidade com os membros das comunidades
retratadas, Ripper fazia questão de ser uma visita frequente para essas
pessoas. Ele não só produzia as fotos, como também as levava de volta para o
lugar onde elas foram tiradas.
Para Ripper, esse trabalho de mostrar às comunidades as fotos que eram
tiradas delas era fundamental para construir laços entre ele e seus
personagens, permitindo que ele conseguisse produzir ensaios, mesmo sem
necessariamente compartilhar a cultura desses lugares.
Carvoarias
Alguns dos trabalhos mais reconhecidos de Ripper foram feitos em
carvoarias na região centro-oeste do Brasil. Em condições deploráveis de vida,
ele retratou um pouco do trabalho escravo de quem sobrevive para pagar dívidas.
Para fugir da perseguição dos donos de carvoarias, Ripper afirma que ia
para esses locais com a companhia de organizações que prestavam auxílio aos
trabalhadores em condição de escravidão.
De qualquer forma, não parece que ele realmente tinha medo de ser
flagrado pelos donos das carvoarias fotografando a ilegalidade. Segundo o
fotojornalista, ele ficava nas comunidades até ser expulso, e sempre tinha uma
desculpa na manga para justificar a produção de imagens: "Dizia que era
para retratar a importância da produção de carvão, que ajudava tanto a economia
no governo Collor.
Favelas
Ripper se mostra indignado ao falar da cobertura jornalística feita em
torno das favelas no Brasil. Segundo ele, a maioria das pessoas lá não tem nada
a ver com o tráfico de drogas, mas somente isso seria exposto pela imprensa.
As críticas não se resumem à imprensa, já que para Ripper a própria
polícia trata os moradores das favelas da mesma maneira, sejam eles traficantes
ou moradores inocentes, inclusive enterrando juntos os seus corpos.
Guilherme Silva
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